Posto Indígena Kamaruman - Amapá, 15 de agosto de 1977

Das Lideranças Galibis para o Presidente da FUNAI

RELAÇÃO DAS NECESSIDADES DOS ÍNDIOS GALIBIS DO RIO UAÇÁ.

PAI GRANDE, nos índios galibis do rio Uaçá, enumeramos abaixo as nossas principais necessidades para que o Pai Grande possa verificar e ver se poderá nos atender em alguma coisa:

1) A recuperação do prédio da nossa Escola que está ruim. Precisa de telhas novas e de recuperação total. Precisamos também construir cômodos para os professores. Se não for recuperado o prédio não haverá aulas em 1978 para 150 crianças. Havendo material de construção a pregos a comunidade está pronta para fazer trabalho;

2 ) A demarcação da nossa Reserva Indígena o mais breve possível e dentro dos limites que pedimos ao Pai Grande no ano passado;

3) A visita da “E.V.S” duas vezes por ano na nossa área indigena pois necessitamos de atendimento médico e 60% da população precisa de atendimento de Dentista. Por motivos que não sabemos a “E.V.S” passa mais de um ano sem visitar nossa reserva indígena e quando aqui chega á sempre às pressas; mas há aldeias no Pará que são visitadas muitas vezes no ano pelas duas “E.V.S” e sem pressas;

4) A compra de um motor-de-centro Yanmar a óleo diesel, de 15 CV, para colocarmos no barco que a comunidade está preparando, para fazermos nossas viagens a Oiapoque e Clevelândia levando mercadorias ou deslocando Índios doentes;

5) A compra de uma serra-circular de 30″,equipada com eixo, polias, motor elétrico e m898 de bancada, assim como uma serra-de-volta, para nós serrarmos toras de madeira lavradas e tirarmos tabuas, ripas e [pernamancas] para melhorarmos nossas casas;

6) A abertura de poços artezianos, equipados, para suprir as necessidades de água potável da comunidade, evitando-se assim muitas doenças que existem na aldeia devido os índios beberem água de poços contaminados, água do campo a do rio;

 7) A criação de uma Ajudância da FUNAI no Oiapoque para dar um atendimento Chefes de Postos e aos índios, pois quando chegamos no Oiapoque ficamos sem acomodação e sem ajuda alguma a temos, muitas vezes, de pedir agasalho a estranhos e outras tantas vêzes dormimos dentro da canoa, na chuva;

8) Pedimos ao Pai Grande preços melhores para o artesanato indigena, pois do jeito que a Delegacia Regional vem pagando, o índio acaba trabalhando de graça. Isso não ser (é) bom, pois o artezanato representa além de arte uma fonte de renda para o índio. Delegacia paga Cr$ 10,00 por colar de índio e já deu, nêste ano, prejuizo de mais de Cr$ 4.500,00 ao índio. Dez cruzeiros não paga nem o valor dos cartuchos que usamos para matar aves para enfeitarmos os colares. Esse preço é humilhante e desestimula os índios para êsse trabalho tradicional.

9) A retirada dos búfalos da Fazenda Sulaimon de dentro da nossa Reserva Indígena o mais breve possível;

Eu MANOEL FLORIANO MACIAL, Tuxaua dos índios Galibis do rio Uaçá e meu Auxiliar MANOEL FELIZARDO DOS SANTOS, fizemos êste documento para nosso Presiten, General ISMARTH DE ARAÚJO OLIVEIRA e assinamos abaixo.

MANOEL FLORIANO MACIAL – TUXAUA DOS ÍNDIOS GALIBIS DO RIO UAÇÁ.

MANOEL FELIZARDO DOS SANTOS – AUXILIAR DOS TUXAUA DOS ÍNDIOS GALIBIS DO RIO UAÇÁ.

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/relacao-das-necessidades-dos-indios-galibi-do-rio-uaca

Original: 1982.06.14 Das Lideranças Kayapó para a Eletronorte

 

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